Os desafios de viajar e acampar com um cão

Se a rotina de viajar com crianças há muito tempo que está entranhada em nós, fazê-lo com um cão é um mundo novo (quase) por explorar.
Começamos logo pela saída do país. Descobri, quando andava à procura de informação sobre eventuais vacinas obrigatórias que, para viajar na Europa com o Lego, ele tinha que ter um Passaporte de Animal de Companhia. As vacinas, tinha-as todas e mais alguma. Até porque, como diz a nossa veterinária, este sempre foi tratado como um viajante frequente. Mas o passaporte, ainda não. O processo é muito simples e é tratado na clinica veterinária onde o animal é seguido.
Vacinas e passaporte à parte, foi preciso escolher bem os parques de campismo porque, aos factores que normalmente determinam a decisão (como a existência de sombras, a qualidade aparente das casas de banho ou o ambiente que se adivinha pelas fotografias disponíveis - preferimos sempre ambientes mais calmos e naturais em detrimento de outros mais agitados e “fabricados”), agora era preciso que fossem amigos dos animais.

Saímos do Porto com muito pouco planeado. Acho mesmo que só tínhamos a certeza do primeiro Parque de Campismo onde queríamos ficar e pouco mais. Mas sabíamos que quaisquer que fossem os nossos destinos futuros, havia meia dúzia de coisas às quais não poderíamos fugir.
Em princípio, não podíamos visitar monumentos fechados. Podíamos não conseguir usar teleféricos de montanha ou outros transportes públicos de que viéssemos a precisar. Teríamos que ficar na esplanada sempre que quiséssemos almoçar ou jantar fora (em tempos de Covid também prefiro essa opção, mesmo que esteja sem cão). Seria difícil andarmos de barco todos juntos. Não podíamos estar na piscina todos ao mesmo tempo. Teríamos que fazer paragens frequentes na viagem de carro para que ele pudesse sair para xixi e umas corridas. E outras coisas do género.

O Lego é um cão muito tranquilo em viagem. Não enjoa no carro. Vai o tempo todo a olhar lá para fora ou a dormitar. No fim dos confinamentos reparámos que tinha medo quando andávamos na auto-estrada mas, entretanto, o nervosismo já lhe passou. Nos parques de campismo só stressa um pouco com o facto de estar preso. É um cão territorial e, ao mesmo tempo, muito sociável. Por isso, sempre que alguém se aproxima da nossa “propriedade” ele ladra com ar ameaçador. Claro que se lhe pegarmos na trela e o deixarmos chegar às pessoas ou cães para quem ladrou, passa-lhe logo a maluqueira e derrete-se todo. Mas não deixa de ser chato para nós. Ficamos sempre envergonhados quando alguém apanha um susto daqueles com a reação intempestiva dele! O mesmo se passa nas esplanadas ou nos sítios onde ficamos mais tempo (como num piquenique, por exemplo). Verdade seja dita, ao fim que 2 semanas de viagem e depois de 3 parques de campismo, ele está muito melhor. Ladra cada vez menos ;). À noite, dorme tranquilamente sem chatear ninguém.

As caminhadas em montanha são a situação em que o sentimos mais à vontade. Soltamos a trela e deixamo-lo andar livremente. Os treinos que fizemos com a Maria Queiróz e o facto de o termos habituado a estes ambientes desde pequeno dão-nos uma tranquilidade muito grande. Ele nunca se afasta muito de nós. Assim que deixa de nos ver ou que o chamamos, corre na nossa direção. É um cão desenrascado, mas emocionalmente dependente de nós. Não gosta de partir à aventura sozinho, por isso anda sempre a “contar-nos”, dando focinhadas nas nossas pernas, um de cada vez. Se algum de nós fica para trás, ele percebe e vai buscá-lo. O verdadeiro cão de rebanho.

E se na montanha ele está no ambiente dele, na bicicleta ainda não estamos nessa fase. Não sabe andar ao lado, nem atrás (mete-se sempre à frente da roda) e, se for em cima da bicicleta sem estar bem preso, é bem capaz de saltar em andamento. Nesta viagem trouxemos bicicletas e, como tal, foi preciso tratar de uma forma de o transportar. Optámos pela mochila de transporte da Kurgo que comprámos para o efeito há uns meses. Mesmo sabendo que nem sempre corre bem e que este seria mais um volume para transportar na mala do carro (que já vinha cheia até à rolha). Até agora, a experiência foi muito positiva. Não gosta muito de entrar, mas depois de lá estar vai tranquilo e bem disposto.

Ver a sua evolução ao longo dos meses é emocionante. Perceber que ele aprende e comunica cada vez melhor quando precisa de correr, de “ir à rua” ou quando sente frio e precisa de um aconchego dá-nos uma sensação de felicidade que os próprios miúdos identificam bem. É um companheiro. No verdadeiro sentido da palavra.

Viajar com um cão não é o mesmo que viajar com crianças. Viajar com crianças também não é o mesmo que viajar com adultos. Sempre que acrescentamos uma variável, acrescentamos uma potencial complicação. Mas nos somos descomplicados por natureza. E sentimos que cada um de nós, o Lego incluído, acrescenta algo de positivo à experiência. Sem crianças e sem cão, ficávamos mais livres, é verdade. Mas eu não acredito que ficássemos mais felizes.
Regra importante para quem viaja com cães no verão é ter sempre um cantil com água fresca à mão. Nós usamos uma taça retrátil porque é mais prática de transportar. Não se esqueçam de garantir que há sempre sombras disponíveis e que param para descansar de vez em quando. Estes nossos amigos de quatro patas são sempre tão fiéis que podem chegar ao ponto de exaustão sem darem sinal.
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